Qual a verdadeira ligação entre a espiritualidade e a sua saúde?
Desde tempos imemoriais, crenças, práticas e experiências espirituais têm sido um dos componentes mais prevalentes e influentes da maioria das sociedades. Profissionais de saúde, pesquisadores e a população em geral têm, cada vez mais, reconhecido a importância da dimensão religiosa/espiritual para a saúde. O número de estudos que investigam a relação entre espiritualidade e saúde tem crescido exponencialmente. Estudar cientificamente a espiritualidade é uma empreitada muito entusiasmante e perigosa. Essa é uma área repleta de preconceitos, a favor e contra a espiritualidade. A maioria das pessoas tem opiniões sobre o tema, mas habitualmente essas opiniões foram formadas sem uma análise aprofundada das evidências disponíveis. Independentemente das nossas crenças, necessitamos explorar a relação entre espiritualidade e saúde para aprimorar nosso conhecimento sobre o ser humano e nossas abordagens terapêuticas.
O que é a espiritualidade?
A espiritualidade pode ser definida como uma propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível. Visa buscar um sentido de conexão com algo maior que si próprio, que pode ou não incluir uma participação religiosa formal. Dentro da área médica, sabemos que a doença é reconhecida também como um estado de espírito que apresenta um grande impacto na vida do indivíduo. Dessa forma, é fundamental reconhecermos que vários aspectos estão correlacionados, ocasionando a manutenção da doença ou auxiliando na reversão do seu quadro. Abaixo, veremos alguns impactos da espiritualidade em alguns aspectos relacionados à saúde.
Espiritualidade e atividade imunológica
A interleucina 6 (IL-6) tem se mostrado uma citocina fortemente correlacionada a reações agudas de estresse, doenças cardiovasculares, depressão, doenças osteomusculares, neoplasias e doença de Alzheimer. Alguns estudos avaliaram a relação entre a prática de atividades religiosas e os níveis séricos de IL-6 e outros mediadores do sistema autoimune e da cascata inflamatória. Em um deles realizado com mais de 1.700 indivíduos idosos, foi revelado, que quando comparados aos pacientes sem práticas religiosas, os praticantes de práticas religiosas apresentaram menores taxas de marcadores de inflamação, como a IL-6, alfa-2 globulina, leucócitos polimorfonucleares e linfócitos.
Prática religiosa e redução de mortalidade
Em uma revisão envolvendo mais de 11 trabalhos independentes avaliando a relação entre a prática de atividades religiosas e o impacto sobre a mortalidade, com 7.000 participantes de diversas idades, indicou-se que os indivíduos que de certa forma praticavam a espiritualidade, seja por praticas religiosas, ou técnicas alternativas, tiveram menores taxas de mortalidade. Além disso, a maioria dos pacientes interromperam o tabagismo, adotaram atividade física regular, aumentaram interações sociais e tornaram seus relacionamentos com seus cônjuges mais harmoniosos.
Espiritualidade e doença cardiovascular
A prática da espiritualidade também pode colaborar com a redução de fatores de risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em geral, as evidências científicas sugerem que aspectos da espiritualidade e sua prática semanal, podem ser fatores protetores contra doenças cardiovasculares, por promover um melhor controle de ansiedade, estresse e melhoria dos hábitos de vida.
Espiritualidade e Fertilidade
Um estudo realizado com 877 pacientes que se submeteram a técnica de ICSI de fertilização in vitro, constatou que naquelas pacientes que exerciam algum tipo de fé ou religião, a taxa de fecundidade foi 15 por cento maior do que nas que não acreditavam em um força superior. Relaxamento? Influência na saúde como um todo? Intervenção divina? Os resultados superam as razões e merecem ser olhados com atenção, afinal, crer em algo positivo não faz mal a ninguém.
A influência da espiritualidade tem demonstrado cada vez mais o seu impacto sobre a saúde física e mental, muito provavelmente contribuindo para a prevenção de doenças e até atuando como coadjuvante na remissão das já instaladas. Cuidar do bem-estar e da qualidade de vida, cada paciente à sua maneira, sempre faz parte das minhas prescrições.
Dra. Andrea Moraes
CRM 5266039-6
Especialista em reprodução humana
